Erradicação da infecção experimental por Ehrlichia canis amostra Jaboticabal pelo tratamento com doxiciclina em cães
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A erliquiose canina é uma doença de alta incidência na região nordeste do Estado de São Paulo, sendo responsável pela morte de muitos cães. O presente estudo objetivou avaliar a resposta ao tratamento com doxiciclina* em cães experimentalmente infectados com Ehrlichia canis amostra Jaboticabal. Exame físico, hemograma, nested PCR, detecção de anticorpos anti-E. canis e pesquisa de mórulas foram realizados em períodos pré-determinados. Nas avaliações após o tratamento os cães infectados estavam assintomáticos, com nPCR negativo e acentuada redução dos títulos de anticorpos específicos. Conclui-se que o tratamento com doxiciclina* é eficiente em erradicar a infecção pela amostra E. canis de Jaboticabal quando utilizada na dosagem de 5mg / kg, a cada 12 horas, durante 21 dias.
J. L. M. FARIA1, T. D. MUNHOZ2, G. V. HERNANDES3, C. F. JOÃO4, M. TINUCCI-COSTA5
1Joice Lara Maia Faria, Médica Veterinária, Aluna de pós-graduação da Faculdade de Ciências Agrárias Veterinárias da UNESP, Campus de Jaboticabal. Professora do Curso de Medicina Veterinária da Universidade de Uberaba – UNIUBE, Uberaba, MG, BRASIL.
2Thiago Demarchi Munhoz, Médico Veterinário, Aluno de pós-graduação da Faculdade de Ciências Agrárias Veterinárias da UNESP Campus de Jaboticabal, SP, BRASIL.
3Giovanny Vargas Hernandes, Médico Veterinário, Aluno de pós-graduação da Faculdade de Ciências Agrárias Veterinárias da UNESP Campus de Jaboticabal, SP, BRASIL.
4 Carolina Franchi João, Médica Veterinária, Aluna de pós-graduação da Faculdade de Ciências Agrárias Veterinárias da UNESP Campus de Jaboticabal, SP, BRASIL.
5 Mirela Tinucci-Costa, Médica Veterinária, Profa. Dra. do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária da Faculdade de Ciências Agrárias Veterinárias da UNESP Campus de Jaboticabal, SP, BRASIL.
INTRODUÇÃO MATERIAL E MÉTODOS DISCUSSÃO
INTRODUÇÃO
A erliquiose canina é causada pela Ehrlichia canis, bactéria gram negativa, intracelular obrigatória, transmitida pelo carrapato Rhipicephalus sanguineus, registrada em muitos países, com maior frequência em regiões tropicais e subtropicais (Neer e Harrus, 2006). O período de incubação da erliquiose canina varia de 8 a 20 dias, seguindo a fase aguda, subclínica e crônica da doença (Harrus et al., 1999). A fase aguda perdura por duas a quatro semanas e caracteriza-se por hipertermia, perda de peso, anorexia, depressão, linfadenomegalia, esplenomegalia, vasculite, sinais oculares e musculoesqueléticos (Harrus et al., 1999; Neer e Harrus, 2006).
A trombocitopenia é a anormalidade mais comum em cães naturalmente ou experimentalmente infectados com E. canis nesta fase da doença (Waner et al., 2000). A fase subclínica tem duração muito variável estendendose de meses a anos (Neer e Harrus, 2006) e o animal pode apresentar altos títulos de anticorpos anti-E. canis, trombocitopenia persistente e leucopenia, na ausência de outros sinais clínicos (Waner et al., 1997). Nesta fase da doença acredita-se que o microorganismo fique albergado no baço do animal (Harrus et al., 1998a; Harrus et al., 2004). Pancitopenia severa, diátese hemorrágica e debilidade orgânica caracterizam a fase crônica (Neer e Harrus, 2006). O diagnóstico pode ser feito pela identificação direta de corpúsculos de inclusão ou mórulas de E. canis em leucócitos e plaquetas (Elias, 1991), aspirados de linfonodos (Mylonakis et al., 2003) e em aspirados esplênicos (Faria, 2006). Detecção de anticorpos específicos, por meio do “DotElisa” (Oliveira et al., 2000) e da Reação de Imunofluorescência Indireta (RIFI) (Nakaghi et al., 2008), além de técnicas moleculares, como a nPCR (Nakaghi et al., 2008; Faria, 2006), também são utilizados como meios diagnósticos.
O tratamento recomendado para a erliquiose canina baseia-se no uso de antimicrobianos como a doxiciclina. Contudo, outros estudos demonstraram diferenças com relação ao protocolo utilizado e a resposta ao tratamento (Iqbal e Rikihisa, 1994; Harrus et al., 1998b; Neer e Harrus, 2006). Zhang et al. (2008), o que pode ser relacionado à imunogenicidade entre as diferentes cepas de E. canis. O objetivo deste estudo foi avaliar a eficácia da terapia com a doxiciclina* na resposta clínica, hematologia, sorológica e molecular de cães infectados experimentalmente com E. canis amostra Jaboticabal.
Animais experimentais
Este estudo foi aprovado pela Comissão de Ética e Bem Estar Animal (CEBEA) da Universidade Estadual Paulista, Campus de Jaboticabal (protocolo 002460-08). Foram empregados 10 cães sem raça definida (SRD), irmãos, machos e fêmeas, com dois anos de idade, nascidos e mantidos no canil experimental do Hospital Veterinário (HV) – UNESP/ Jaboticabal, sem contato com ectoparasitas. No período pré-experimental todos os cães foram imunizados contra doenças infecciosas (Fort Dodge®) e vermifugados conforme protocolo do HV–UNESP/Jaboticabal e, preventivamente, tratados com ectoparasiticidas. Foram alimentados com ração comercial (Sabor e Vida Filhotes® -Guabi) e água à vontade. Durante o período pré-inoculação, os cães foram periodicamente avaliados mediante exames físico e hematológico e, após a inoculação, o exame físico passou a ser diário mantendo-se a periodicidade dos exames hematológicos até o término do tratamento, conforme o protocolo de rotina do Laboratório de Patologia Clínica do Hospital Veterinário da FCAV Jaboticabal - UNESP.
Antes da infecção experimental foram coletados 10 mL de sangue, sendo uma alíquota conservada em ácido etilenodiaminotetracético (EDTA), para realização de hemograma e nested PCR e a parte remanescente dessorada e empregada na pesquisa de anticorpos anti-E. canis e antiBabesia canis. Esses mesmos procedimentos foram repetidos outras vezes para a avaliação da infecção experimental e do tratamento, conforme especificados no Quadro 1.
Quadro 1. Protocolo experimental adotado para os cães controle e experimentalmente infectados com E. canis, amostra Jaboticabal, Jaboticabal, 2009.
*Lote Piloto: DOXP 50 mg, 100 mg e 200 mg - 001/08, Fabricação: Nov. 2008 – Ouro Fino Saúde Animal Ltda.
Inóculo e infecção experimental
Confirmada a ausência de infecção por E. canis e B. canis, os 10 cães foram separados, aleatoriamente, em dois grupos experimentais: grupo I (n=5) receberam o inóculo de E. canis (I1 a I5) e o grupo C (n=5), serviram como controle da infecção (C1 a C5). Os cães do grupo I foram inoculados, por via intravenosa, com alíquotas individuais de 3mL de sangue infectado com a amostra de E. canis Jaboticabal (Gene Bank nº DQ401044), criopreservada em nitrogênio líquido (Castro et al., 2004). Após a inoculação, o aparecimento da parasitemia foi acompanhado por meio de exames diários, pautados na pesquisa de mórulas em esfregaços sangüíneos de ponta de orelha (Elias, 1991), além de exame físico diário, como já referido. Técnica das Reações de Imunofluorêscencia Indireta (RIFI) para Ehrlichia canis e Babesia canis.
A RIFI foi realizada como descrito por Nakaghi et al. (2008), para o sistema E. canis, e por Furuta (2004), para o sistema B. canis. As amostras de soros foram diluídas a 1:20 e 1:40 em solução salina tamponada com fosfato (PBS pH 7,2), e empregadas na detecção de anticorpos anti-E. canis e anti-B. canis, respectivamente. Foram depositados 10 mL do soro diluído em áreas demarcadas das lâminas e então, incubadas em câmara úmida a 37°C. Posteriormente foram lavadas em PBS (pH 7,2), secas e, em cada área demarcada adicionado o conjugado anti-IgG de cão (cat. n° F7884 Sigma®), diluído conforme orientação do fabricante. As lâminas depois de secas e montadas em glicerina tamponada foram avaliadas à microscopia com emissão de luz ultravioleta. Para E. canis foram considerados positivos aqueles soros que reagiram em diluições maiores ou iguais a 1:20; a positividade da reação foi dada pela observação de fluorescência nas mórulas, comparativamente às amostras de soro controle positivo e negativo. Para B. canis foram consideradas positivas as reações em que toda a periferia do parasita apresentou fluorescência, na diluição de 1:40.
Reação em Cadeia da Polimerase (PCR)
A extração de DNA do sangue foi realizada por meio do QIAamp® DNA Blood Mini Kit (cat. n° 51104, Qiagen®), como preconizado pelo fabricante. A amplificação foi realizada em duas etapas, em termociclador (MJ Research - PTC 200) como descrito por FARIA (2006) e Nakaghi et al. (2008). Na primeira amplificação foram utilizados 5,0mL do DNA da amostra em 5,0mL de tampão da PCR (PCR buffer 10X – 100mM Tris-HCl, pH 9,0, 500 mM KCl), 0,2mM de cada deoxinucleotídeo (dTTP, dATP, dGTP, dCTP, Invitrogen®), 2,5mM de Cloreto de Magnésio, 1pmol de cada primer ECC (5’– GAACGAACGCTGGCGGCAAGC –3’) e ECB (5’- CGTATTACCGCGGCTGCTGGCA –3’) (InvitrogenÒ), 0,25U de Taq DNA Polimerase Recombinante (InvitrogenÒ) e água (GibcoÒ) q.s.p. 50mL.
A nPCR foi realizada utilizando as mesmas soluções, além de 1,0mL de amostra do DNA amplificado e os primers ECAN (5’- CAATTATTTATAGCCTCTGGCTATA GGA –3’) e HE3 (5’- TATAGGTACCGTCATTA TCTTCCCTAT –3’). Os produtos amplificados foram visibilizados em gel de agarose (Invitrogen®) a 1,5% corado com brometo de etídio por meio de um transiluminador de luz ultravioleta (2020E) acoplado a um programa computacional analisador de imagens (Eagle Eye II - Stratagene®). As técnicas sorológicas (RIFI) e moleculares (nPCR) foram realizadas no Laboratório de Imunoparasitologia do Departamento de Patologia Veterinária da FCAV – UNESP/ Jaboticabal.
Tratamento dos animais infectados
Para o tratamento dos cães inoculados foi utilizado a Doxiciclina* na posologia de 5mg/Kg/de 12 em 12 horas, durante 21 dias consecutivos. O tratamento iniciou-se 30 dias pós-inoculação (D30) o que foi considerado o final da fase aguda seguindo o preconizado por Neer e Harrus, 2006.
Análise Estatística
Para a análise estatística dos parâmetros hematológicos, realizou-se primeiramente uma análise de variância para medidas repetidas. Sempre que o resultado se mostrou significante, utilizou-se o teste Dunnett com significância de 5%. Para a análise das variáveis independentes foi utilizado do teste “T de Student” também com significância de 5%. Para os demais resultados optou-se por uma análise descritiva.
Eficácia do modelo experimental
O modelo experimental utilizado foi eficaz, uma vez que todos os cães do grupo infectado desenvolveram sinais clínicos de erliquiose à partir do 12° dia pós inoculação e apresentaram-se positivos à nPCR e à RIFI. Mórulas intracitoplasmáticas foram encontradas em esfregaços sanguíneos de ponta de orelha em 60% (n=3) dos cães do grupo infectado a partir do D15 pósinoculação, confirmando a parasitemia e a infecção por E. canis, Figura 1.
Exame físico dos animais
Os cães do grupo controle não apresentaram alterações no exame físico durante todo o período experimental, enquanto os cães infectados desenvolveram sinais e sintomas da doença a partir do 12° dia pós-inoculação. A média da temperatura retal (Figura 2) mostrou-se elevada no grupo I, registrando aumento significativo (P<0,05) entre os dias 12 e 20 PI, quando comparados aos dias anteriores e ao grupo controle voltando aos valores de referência após esse período. Concomitantemente com o período febril os cães apresentaram linfadenomegalia submandibular, pré- escapular e poplítea, assim como destacada esplenomegalia, notada pela palpação abdominal.
Figura 1. Visibilização de mórula em esfregaço sanguíneo de ponta de orelha no cão I5 no D15 PI. Jaboticabal, SP. Setembro/2009. 100X Rosenfeld modificado.
Exame físico dos animais
Os cães do grupo controle não apresentaram alterações no exame físico durante todo o período experimental, enquanto os cães infectados desenvolveram sinais e sintomas da doença a partir do 12° dia pós-inoculação. A média da temperatura retal (Figura 2) mostrou-se elevada no grupo I, registrando aumento significativo (P<0,05) entre os dias 12 e 20 PI, quando comparados aos dias anteriores e ao grupo controle voltando aos valores de referência após esse período. Concomitantemente com o período febril os cães apresentaram linfadenomegalia submandibular, pré- escapular e poplítea, assim como destacada esplenomegalia, notada pela palpação abdominal. Nos cães de ambos os grupos não foram observadas alterações significativas quanto ao grau de hidratação, freqüências cardíaca e respiratória e tempo de preenchimento capilar.
Figura 2.Média da variação diária de temperatura dos cães infectados com E. canis, amostra Jaboticabal, desde o dia 0 até o dia 30 pós inoculação. Jaboticabal, SP. A variação fisiológica de temperatura para a espécie canina é de 37,5º a 39,4ºC (FEITOSA, 2004).
Parâmetros Hematológicos
Não se evidenciaram diferenças significativas nos valores médios dos parâmetros de hemácias, hematócrito, hemoglobina e plaquetas durante todo o experimento no grupo controle. Em contrapartida, no grupo infectado, a partir do D3 foi possível observar trombocitopenia persistente até o término do período experimental. Redução significativa no número total de hemácias, hemoglobina e hematócrito, caracterizando anemia, foram registradas nos momentos D18 e D30. Os valores observados para esses parâmetros foram significativamente menores (P<0,05), quando comparados aos do grupo controle e aos momentos anteriores ao D18 para o grupo infectado (Tabela 1).
No leucograma o grupo infectado (Tabela 1) apresentou leucopenia a partir do D6 que perdurou até o final das avaliações. A contagem diferencial de leucócitos revelou eosinopenia nos momentos D18 e D30 e diminuição de neutrófilos segmentados também no momento D18. A contagem de basófilos e neutrófilos bastonetes permaneceu dentro dos valores de normalidade para os dois grupos experimentais.
Tabela 1. Valores médios do hemograma dos cães controles (C) e infectados (I) experimentalmente com E. canis, amostra Jaboticabal. Jaboticabal, SP. Setembro/2009.
Detecção de anticorpos anti-E.canis e anti-B.canis
Os resultados da pesquisa de anticorpos anti-E. canis e anti-B.canis, por meio da RIFI, foram negativos para todos os cães deste experimento no D-1, demonstrando que se tratavam de cães não expostos a esses hemoparasitas. Nas avaliações subseqüentes (D18 e D76), os cães do grupo controle permaneceram negativos aos anticorpos anti-E.canis e anti-B. canis, sendo o inverso visto nos cães infectados, que apresentaram-se positivos a E. canis com títulos de anticorpos que variaram de 1:2.560 a 1:5.120 no D18 e de 1:320 a 1:2.560 no D76. Em momento algum os animais infectados apresentaramse positivos à RIFI anti-B. canis.
Detecção do DNA de E. canis
O DNA de E. canis foi detectado nos cães infectados unicamente no momento D18, tornando-se negativos após o tratamento (D76). Os produtos amplificados de E. canis do grupo infectado (fragmentos de 398 pares de base), podem ser vistos na Figura 3
Eficácia do Tratamento com Doxicilclina*
Aos 30 dias PI experimental (D30) foi iniciado o tratamento com doxiciclina* comprimidos (5 mg/ Kg 12 -12h, via oral) administrado por 21. Após 5 (cinco) dias do início do tratamento já foi possível observar melhora da disposição e apetite e ao término deste, 100% dos cães apresentaram remissão completa dos sinais clínicos da doença. Foi observado também elevação do número total de hemácias, hemoglobina e hematócrito quando comparados aos momentos D18 e D30, contudo as plaquetas e os leucócitos mantiveram-se abaixo dos valores de referência para a espécie, mesmo após o tratamento. Em relação à detecção de anticorpos anti-E. canis, os cães mantiveram-se positivos mesmo após o tratamento, com esperada diminuição nos títulos (1:320 a 1:2.560) quando comparados ao momento D18. A eficácia do tratamento* foi confirmada, uma vez que não foi detectado DNA erliquial nos cães infectados após a administração do fármaco (D76).
DISCUSSÃO
A amostra E. canis Jaboticabal tem se mostrado eficiente em reproduzir a infecção experimental em cães, com resultados semelhantes aos descritos em outros experimentos (Castro et al., 2004), como também com a infecção de ocorrência natural (Harrus et al., 1999; Nakaghi et al., 2008; Faria, 2006; Neer e Harrus, 2006). As alterações observadas no hemograma dos cães desse estudo corroboram com os resultados obtidos por Castro et al. (2004), embora a maioria dessas alterações ocorreram mais precocemente (a partir de D3), enquanto que para Castro et al. (2004) as alterações no hemograma surgiram a partir do 10° dia PI, embora nos dois estudos os cães tenham sido inoculados com a amostra E. canis de Jaboticabal. A exata explicação para estas sutis diferenças não está totalmente elucidada. Uma possibilidade levantada seria a virulência do inóculo, uma vez que Castro et al. (2004) utilizaram uma amostra original que estava criopreservada, ao passo que a empregada neste estudo sofreu uma passagem em cultivo celular em linhagem de monócitos caninos (DH82-ATCC, CRL-10389, USA), o que poderia aumentar a virulência da amostra, como descrito para outros agentes infectantes (Wellman et al., 1988).
Outra possibilidade seriam os cães receptores do inóculo. Castro et al. (2004) inocularam E. canis, amostra Jaboticabal, em filhotes da raça Pastor Alemão de 4 meses de idade, que sabidamente desenvolvem um quadro clínico severo da doença (Neer e Harrus, 2006). Neste estudo, foram empregados cães sem definição racial e com 2 anos. Desta forma, o esperado seria um quadro clínico muito mais brando o que, de fato, não ocorreu. Estas variações demonstram que a patogenia da erliquiose canina experimental, necessita de estudos adicionais, pois sugerem que outros fatores, que não a raça e idade possam estar envolvidos, além de apontarem para variações na virulência da amostra.
CASTRO et al. (2004) também observaram mórulas intracitoplasmáticas nos animais do grupo infectado, condizente com o observado no presente estudo, e diferem dos achados de Harrus et al. (1998a), Harrus et al. (1998b) e Harrus et al. (2004), que avaliaram cães experimentalmente infectados com a cepa Israel 611, nos quais mórulas não foram observadas. O tratamento com doxiciclina* por 21 dias eliminou a infecção por E. canis, o que foi confirmado pela negativação da nPCR. Pesquisadores tem referido que a nPCR é uma prova sensível e específica (Wen et al., 1997; Faria, 2006; Nakaghi et al., 2008) e é útil para se avaliar a erradicação da infecção (Harrus et al., 1998b e Eddlestone et al., 2007), o que concorda com este estudo. Outro resultado que reforça que o tratamento* erradicou a infecção experimental foi a redução dos títulos de anticorpos anti-E. canis no D 76. Resultados semelhantes foram descritos por Eddlestone et al. (2007). A permanência de títulos antiE. canis pode ser detectada por longo período, mesmo após a eliminação do parasita (Iqbal e Rikihisa, 1994, Harrus et al., 1998a, Harrus et al., 1998b, Harrus et al., 2004). Somando-se a esses resultados sabe-se que na infecção subclínica altos títulos de anticorpos anti-E. canis são encontrados (Waner et al., 1997), sendo atribuídos à estimulação antigênica continuada. Portanto, pode-se pensar que a erradicação do parasita leve a redução dessa estimulação antigênica e consequentemente a redução dos títulos de anticorpos, como visto nesse estudo.
A persistência da trombocitopenia após o tratamento poderia ser atribuída a mecanismos imunomediados como assinalado por Waner et al. (2000), que a justificam pela formação de anticorpos anti–plaquetários. Os mecanismos que estão envolvidos na patogênese da trombocitopenia na erliquiose aguda incluem aumento de consumo de plaquetas devido às alterações inflamatórias do endotélio vascular, aumento do seqüestro de plaquetas pelo baço e destruição imunológica que resulta em diminuição significativa no tempo de vida das plaquetas (Harrus et al., 1999). Esses achados são discordantes do proposto por Neer et al. (2002) que afirmam que a trombocitopenia pode ser utilizada para monitorar a resposta à terapia com doxiciclina. Pode-se concluir com este estudo que o tratamento com doxiciclina* na posologia de 5mg/kg, a cada 12 horas, durante 21 dias é eficaz, uma vez que, ao final do período de tratamento*, os cães estavam clinicamente recuperados e apresentaram cura parasitológica. Este estudo demonstra também que é importante ter cautela em relação ao uso da contagem plaquetária para avaliação da resposta ao tratamento.
AGRADECIMENTOS:
À Profa. Dra. Rosângela Zacarias Machado por ceder a amostra Ehrlichia canis (de Jaboticabal) e toda a infraestrutura do Laboratório de Imunoparasitologia, para realização das técnicas moleculares e sorológicas. Ao pós-graduando Marcos Rogério André pelo auxílio na execução da nPCR e da RIFI. Ao Dr. Carlos Henrique Henrique, Dra. Daniela Miyasaka Silveira Cassol, Dr. Fábio Alexandre Marson e Dra. Vanessa Garcia Rizzi – Ouro Fino Saúde Animal Ltda. Ao Grupo Guabi.
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Summary Eradication of experimental infection with Ehrlichia canis Jaboticabal sample by treatment with doxycycline hyclate in dogs
Joice L. M. Faria et al. Canine ehrlichiosis is an endemic disease, with high incidence in the Northwest area of Sao Paulo State – Brazil and it is responsible for the death of numerous dogs. This study evaluated the response to therapy with doxycycline* in dogs experimentally infected with Ehrlichia canis Jaboticabal – SP – Brazil sample. In pre-determined intervals, their blood was colected and clinical sings, hemogram, nested PCR, anti-E. canis antibodies detection and research morulae were performed. In the post-treatment evaluation, the infected dogs were asymptomatic with negative nPCR and decreased tritation of specific antibodies. This study showed that the doxycycline* (5mg/Kg/VO/q12h/21 days) treatment was clearance of experimentally induced E. canis strain from Jaboticabal infection in dogs.