Protocolo para o tratamento de otite externa em cães

Empresa

Ourofino

Data de Publicação

11/08/2017

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Introdução

A otite externa é um processo inflamatório que atinge os pavilhões auriculares e o meato acústico externo de diversos animais, podendo ser um processo patológico primário ou secundário, com evolução aguda, crônica ou ainda crônica recidivante.

Devido às dificuldades no sucesso da cura clínica, que envolvem desde os fatores perpetuantes das otites até as barreiras do tratamento que incluem a falta de disciplina nas aplicações dos produtos tópicos, não adaptação do animal ao tratamento e fracassos na instauração de um programa de profilaxia por parte dos proprietários, a chance das otites externas adquirirem um caráter recidivante e/ou crônico é bastante considerável.

Em cães, a otite externa possui grande importância clínica. Estima-se que cerca de 5 a 20% dos cães sejam acometidos por alguma forma dessa doença, sendo a otite crônica responsável por até 76,7% dos casos de otopatias em cães e 50% em gatos.

Etiologia e características

Embora as otites sejam patologias de origem multifatorial, podendo ser causadas por parasitas, corpos estranhos, tumores e doenças de pele, as bactérias e fungos desempenham um papel muito importante na sua etiologia.

Tais microrganismos ocorrem normalmente em pequena população nos ouvidos de cães e gatos, porém em quadros de otites, a microbiota altera-se, sendo as bactérias Staphylococcus intermedius, Staphylococcus aureus e Pseudomonas aeruginosa as mais prevalentes nessa patologia; seguidas por Streptococcus spp., Escherichia e Proteus, onde sabe-se que as bactérias do gênero estafilococos são relacionadas aos casos de otites externas agudas enquanto as do gênero pseudomonas são comumente encontradas nos quadros de otites externas crônicas, muitas vezes associadas a outras bactérias piogênicas.

Já em relação aos fungos, a levedura mais prevalente é a Malassezia pachydermatis.

Os sintomas de otites são facilmente reconhecidos, podendo ser unilaterais ou bilaterais, e incluem os sinais como balançar de cabeça, eritema, prurido, exsudato, além de manifestações comportamentais de dor no animal, como choro ou resposta agressiva quando o canal auditivo é palpado.

Diagnóstico

Para auxiliar o diagnóstico das otites, exames clínicos são realizados através da otoscopia, citologia auricular, cultura e antibiograma, biopsia e radiografia.

Tais exames são utilizados para avaliar o grau de inflamação, presença de corpos estranhos, ectoparasitas, massas, integridade da membrana timpânica, presença de células neoplásicas; além de avaliar a presença de infecção secundária por leveduras, bactérias e a sensibilidade desses agentes para determinados ativos.

O objetivo final do diagnóstico visa definir a causa primária da doença para que assim haja a escolha adequada do tratamento, evitando possíveis recorrências do quadro de otite externa.

Sugestão de tratamento

A utilização de produtos tópicos polivalentes à base de anti-inflamatórios, antifúngicos e antibióticos associados à limpeza rotineira do pavilhão auricular, fazem parte do protocolo de tratamento adequado em quadros de otite externa.

Em relação as opções de anti-inflamatórios de ação rápida, os glicocorticoides, como a betametasona e a fluocinolona são os ativos indicados no tratamento de otites, resultando na diminuição da inflamação, edema, prurido, além de tornar os condutos auditivos mais favoráveis à ação de outros ativos de uso tópico.

Em casos de otite externa associada à infecção secundária por fungos, cuja espécie M. pachydermatis é a mais encontrada, os ativos Miconazol e Cetoconazol são opções seguras e eficazes, pois apresentam amplo espectro anti-fúngico e quando administrados topicamente resultam em uma rápida absorção.

Em se tratando de otite externa de etiologia bacteriana, uma atuação rápida e eficaz é conseguida pela ação de antibióticos bactericidas como a Gentamicina, ativo pertencente à classe dos aminoglicosídeos, que apresenta amplo espectro de ação e é altamente eficaz contra cepas de Staphylococcus sp., agente frequentemente isolado em quadros de otite externa canina.

Outro ativo também utilizado é a Ciprofloxacina, antibiótico que atua contra bactérias gram-negativas e gram-positivas, apresentando eficácia acima de 90% contra bactérias do gênero Pseudomonas, microrganismo comumente encontrado nos quadros crônicos e recidivantes das otites. O uso de anestésicos locais, como a Lidocaína, também é indicado, atuando no alivio da dor e prurido, sinais característicos nos quadros de otites.

A limpeza correta do ouvido associada ao tratamento tópico, desempenha papel fundamental no sucesso terapêutico das otites, pois permite que a medicação atinja o epitélio do canal auditivo de forma adequada, além de reduzir a proliferação bacteriana e promover um ambiente mais propício à cura.

O uso de produtos que permitam uma limpeza suave e sejam compostos por substâncias que promovam hidratação e acalmem a pele, como por exemplo os extratos de origem vegetal, são indicados. A escolha por formulações de pH mais elevado, ideal para uso antes da aplicação de formulações terapêuticas, por não interferir na atividade antimicrobiana dessas formulações, também é indicada.

As otites constituem-se em uma das patologias mais frequentes na clínica de pequenos animais e apresentam, em sua resolução, vários desafios ao clínico. Assim, a fim de garantir o sucesso no tratamento é indispensável a realização de um adequado diagnóstico, buscando a identificação do(s) agente etiológico, bem como a eleição do tratamento mais adequado, resultando assim em menor índice de recidivas.