Analgesia pré e pós-cirúrgica em cães e gatos
Introdução
A dor foi conceituada em 1986, pela International Association for the Study of Pain (IASP), como uma experiência sensorial e emocional desagradável que está associada a lesões teciduais reais ou potenciais.
Atualmente, estudos comprovam que os animais experimentam a dor de forma similar aos seres humanos por possuírem semelhanças em relação à neuroanatomia, bem como os mecanismos fisiológicos de percepção da dor. Tais descobertas, aliadas à crescente preocupação com o bem-estar animal, fizeram com que a dor recebesse uma atenção especial, sendo considerada pelos profissionais da área como o quinto sinal vital.
A analgesia pré e pós-operatória é de suma importância, pois, sabe-se que a dor está associada a diversas alterações neuroendócrinas e fisiológicas que podem comprometer o bem-estar e a recuperação dos animais que passarão por procedimentos cirúrgicos, devendo, portanto, ser prevenida e aliviada.
Para tanto, os especialistas utilizam estratégias ou técnicas de analgesia que auxiliarão no controle efetivo da dor pós-operatória. A analgesia preemptiva é uma das técnicas e se refere à utilização de agentes analgésicos antes do paciente ser exposto ao procedimento cirúrgico. Essa estratégia tem o objetivo de inibir o processo de sensibilização periférica e central, reduzindo a dor pós-operatória e promovendo um período mais rápido de recuperação do paciente.
Outra estratégia é a terapia analgésica balanceada ou multimodal, que visa à administração simultânea de variados fármacos com atividade analgésica, de duas ou mais classes farmacológicas, para alcançar um ótimo controle da dor. O fundamento deste tratamento é a obtenção de uma analgesia mais eficaz alcançada pelo efeito sinérgico ou aditivo dos fármacos que poderão atuar por diferentes mecanismos de ação, como os antiinflamatórios não-esteroidais que atuam prevenindo a sensibilização de nociceptores durante o processo inflamatório; os anestésicos locais ao interromperem localmente a condução do impulso nervoso além dos opióides que atuam na inibição de impulsos aferentes na medula espinhal ou cérebro.
Sugestão de Protocolo Analgésico Pré e Pós-operatório
Uma forma bastante comum de obter a analgesia multimodal na clínica veterinária de pequenos animais é por meio da associação de opióides com anti-inflamatórios não esteroidais mais seguros, como os que atuam com seletividade de inibição da via da cicloxigenase-2 (COX-2).
Dentre os opióides, o tramadol tem sido muito utilizado nos procedimentos para a analgesia pré e pós-operatória, sendo a dose recomendada para cães e gatos de 2 a 4 mg/kg, antes ou depois da cirurgia, com a duração do tratamento no pós-operatório ajustada a critério do médico-veterinário e de acordo com a intensidade da dor provocada pelo procedimento.
Dentre os anti-inflamatórios não esteroidais, o meloxicam tem sido considerado um dos mais seguros para cães e gatos, sendo sua dose recomendada para cães de 0,2 mg/kg no primeiro dia de tratamento, ou durante a MPA (medicação pré-anestésica) seguido de 0,1 mg/kg nos demais dias, com a duração do tratamento sendo estipulada pelo médicoveterinário. Para gatos, a dose recomendada é de 0,1 mg/kg, não devendo ultrapassar 4 dias de tratamento, embora na prática, há relatos de clínicos que conseguiram o uso seguro do ativo por período mais prolongado, porém sempre com um cuidadoso monitoramento do animal.
A escolha do protocolo adequado para controle da dor no pré e pós-operatório, deve ser feita de forma racional, visando resultados globais que proporcionem conforto, qualidade de vida e sejam compatíveis às características individuais e clínicas de cada animal.
Fontes:
FANTONI, D. T.; MASTROCINQUE, S. Modulação da resposta neuroendócrina à dor pósoperatória em cães: estudo comparativo entre tramadol e morfina. Clínica Veterinária, n. 31, p. 25-29, 2001.
MATHEWS, K. A. Dor: origem e efeito. In RABELO, R. C.; CROWE JR, D. T. Fundamentos de terapia intensiva veterinária em pequenos animais: condutas no paciente crítico. Rio de Janeiro. L. F. Livros de Veterinária, cap. 45, p. 518-527, 2005
TEIXEIRA, F. M. Avaliação comparativa do efeito de fármacos anti-inflamatórios com acupuntura no modelo de dor pós-incisional em ratos. 77f. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária) – Instituto de Veterinária, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, 2010.
SALIBA, R.; HUBER, R.; PENTER, J.D. Controle da dor em pequenos animais. Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 32, suplemento 1, p. 1981-1988, 2011.