TecNews Abril • 2018 - Ceruminolíticos: quando e como usar?
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O cerúmen é uma mistura de secreções das glândulas sebáceas e ceruminosas que tem como função proteger e lubrificar a membrana timpânica e carrear sujidades (restos celulares, eventuais corpos estranhos e a própria secreção) para fora do conduto auditivo, num processo denominado migração epitelial ou ceruminoquinese.
De acordo com LUCAS (2016, p. 785), qualquer interferência neste processo natural de limpeza favorece a instalação da otite externa, uma vez que impõe o acúmulo de cerúmen tornando o ambiente propício para o crescimento anormal de microorganismos comensais da orelha, como Malassezia pachidermatis e Staphilococcus psuedintermedius.
Os ceruminolíticos são produtos especialmente desenvolvidos para a limpeza do conduto auditivo dos animais e são ponto chave no tratamento tópico de toda e qualquer otopatia.
Sua função abarca desde a limpeza do conduto para melhor execução do exame otológico e, consequentemente, um diagnóstico mais assertivo, até o preparo do ambiente para a ação dos medicamentos específicos em cada tratamento, agindo diretamente sobre o biofilme ali instalado.
Um estudo realizado por Mueller et al. (2013), comparando protocolos de tratamento de otites com e sem o uso de ceruminolíticos como etapa inicial, evidencia que o uso destes reduz significativamente os sinais clínicos da otite.
Como fatores predisponentes para que ocorra falha na migração epitelial estão características anatômicas, como as orelhas pregueadas ou pendulares (Sharpei e Cocker Spaniel, respectivamente), fatores genéticos, como excesso de produção de cerúmen e excesso de pelo no conduto auditivo, além de causas iatrogênicas, como higienização inadequada do conduto e presença de corpos estranhos.
Além disso, considerando que a orelha é revestida pelo mesmo epitélio que recobre todo o corpo do animal, distúrbios dermatológicos terão como repercussão quadros óticos concomitantes, como no caso de processos seborreicos e dermatite atópica.
Nestes últimos casos em especial, independentemente da causa de base, os animais deverão ser tratados com ceruminolíticos ad eternum (LUCAS, 2016, p. 789).
Em geral, os protocolos de tratamento de otites externas preconizam a limpeza com ceruminolítico apropriado durante 3 a 7 dias antes da interposição do tratamento específico, ou até a completa eliminação do excesso de material.
Nos casos de otite em que a causa base identificada é a produção excessiva de cerúmen, a utilização de ceruminolítico apropriado encerra em si o tratamento, pois a limpeza e acidificação do meio já são suficientes para o controle do quadro (LUCAS, 2016, p 794).
Para a escolha adequada da solução ceruminolítica a ser utilizada, deve-se conhecer o pH dos produtos para evitar irritação e otalgia em orelhas muito inflamadas e exulceradas e não prejudicar a absorção dos produtos tópicos determinados para o tratamento específico.
Produtos à base de ácido salicílico e ácido lático (Epiotic®) são largamente utilizados pois, além de removerem do conduto as sujidades consequentes do processo inflamatório, acidificam o meio tornando-o hostil ao superdesenvolvimento de bactérias e leveduras; produtos com pH fisiológico (Phisio Anti-odor®) removem suavemente as sujidades e são ideais para orelhas para as quais a limpeza frequente é preconizada como forma de controlar quadros recidivantes de otites externas, como em animais com orelhas pendulares e pregueadas.
A despeito da sua importância dentro de um protocolo de tratamento ou prevenção de otites externas, é importante ressaltar que a limpeza do conduto auditivo somente deve ser realizada sob orientação do médico-veterinário.