Uso racional de antimicrobianos: qual a importância?

Empresa

Ourofino

Data de Publicação

21/09/2018

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A resistência bacteriana aos antimicrobianos, efeito inevitável devido ao uso intenso destes fármacos vem sendo motivo crescente de preocupação tanto para a saúde humana quanto em medicina veterinária.

Cães e gatos representam uma fonte potencial para a difusão de resistência antimicrobiana, pois muitas classes de antibióticos usadas em animais também são empregadas em seres humanos para tratar doenças graves, ocorrendo falha terapêutica; outro fator é devido ao contato muito próximo destes animais com os seres humanos, havendo estudos que relatam a transmissão de várias bactérias multirresistentes entre animais de estimação e seres humanos.

Com relação ao uso dos antimicrobianos na clínica de pequenos animais, estudos apontam que as piodermites caninas são a principal razão do uso dessa classe de fármacos.

Em tais casos, o surgimento de cepas de bactérias causadoras da patologia, especialmente o Staphylococcus pseudointermedius, estão se mostrando cada vez mais resistentes a uma ou até mesmo a várias classes de antimicrobianos.

Essa crescente resistência tem sido muito discutida por especialistas que, para orientar os clínicos quanto ao uso mais racional dos antimicrobianos, evitando; desta forma, o aumento da resistência, produziram nos últimos anos alguns guias sobre o uso desses fármacos no tratamento das infecções bacterianas da pele.

O primeiro conceito apresentado pelos guias é de que não é possível o uso racional sem a realização de exames de cultura e antibiograma para identificação da bactéria e de seu perfil de sensibilidade.

A informação obtida pelo exame de cultura e antibiograma deve ser também cruzada com os dados obtidos no exame físico e na anamnese, que devem ser detalhados e minuciosos, pois darão os elementos ao clínico para que ele possa eleger o melhor antibiótico segundo a classificação de: antibióticos de primeira, segunda ou terceira escolha.

Antibióticos de primeira escolha: são usados no início do tratamento enquanto se aguarda os resultados dos exames de cultura e antibiograma, porém, somente são recomendados para aqueles quadros cujo histórico demonstre não existir qualquer risco de que as bactérias envolvidas possam apresentar resistência.

Os produtos à base de cefalexina e/ou à base de sulfadimetoxina associada ao ormetoprim, são os antibióticos de primeira escolha para a terapia das piodermites.

Antibióticos de segunda escolha: apresentam seu uso determinado pelo resultado do exame de perfil de sensibilidade da bactéria causadora da piodermite. Só são utilizados, portanto, após a conclusão do perfil de sensibilidade e se for evidente que terão efeito terapêutico.

Nunca devem ser usados, portanto, de forma empírica ou para iniciar tratamentos antes da conclusão do antibiograma. Os produtos à base de doxiciclina e/ou à base de enrofloxacina são antibióticos de segunda escolha para a terapia da piodermite.

Como a maioria dos estafilococos resistentes mostram sensibilidade às sulfas potencializadas, estas também, podem se apresentar como antibiótico de segunda escolha, aparecendo no perfil de sensibilidade como uma possibilidade terapêutica.

Antibióticos de terceira escolha: são considerados a última opção que se dispõe para o tratamento das piodermites e são destinados àquelas causadas por bactérias altamente resistentes.

Produto à base de azitromicina, considerado o ativo de terceira escolha para os casos extremamente críticos de piodermite, sendo utilizado sempre após validação do perfil de sensibilidade da bactéria.

O tempo de tratamento indicado para antibioticoterapia das foliculites superficiais, que são a forma mais comum e mais simples das piodermites, é de mínimo de 3 semanas, podendo se estender até 6 semanas e a terapia tópica deve se estender por até 7 dias após a resolução clínica de todas as lesões associadas à infecção.

O acompanhamento da resposta clínica também auxilia o clínico a avaliar sua escolha terapêutica. A resistência ao antimicrobiano deve ser suspeitada quando: houver redução de menos de 50% das lesões após duas semanas de tratamento; aparecerem novas lesões (pápulas, pústulas, colaretes) duas semanas ou mais após o início do tratamento; ainda houver resíduo de lesões com seis semanas de tratamento e/ou ainda houver presença de cocos na citologia.

Para cães com histórico de recidiva ou confirmação de episódios anteriores de piodermites causadas por bactérias resistentes, ou esses históricos relacionados a animais que convivem com esses cães; os guias recomendam que não seja iniciado nenhum tratamento antibiótico sistêmico antes que se tenha em mãos o resultado de perfil de sensibilidade bacteriana.

Desta forma, o uso racional dos antimicrobianos deve ser baseado no conhecimento dos agentes infecciosos por meio do isolamento bacteriano e uso de testes de sensibilidade antimicrobiana, além do uso destas medicações em doses corretas por tempo adequado.

A prescrição criteriosa de antimicrobianos deve ser alcançada pela educação continuada de veterinários e médicos, com esclarecimentos à população sobre a adequada indicação destes produtos.