ESTRESSE: Seu papel na cistite idiopática felina (CIF) e maneiras que podem ajudar a controlá-lo
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Pontos-chave
Um número crescente de evidências sugere que o estresse desempenha papel importante no desenvolvimento da CIF por resposta atenuada do cortisol e liberação exacerbada de catecolaminas.
L-Triptofano e proteína hidrolisada do leite demonstraram diminuir a ansiedade e sinais comportamentais relacionados ao estresse em gatos e podem ser úteis no controle da CIF.
Introdução
A evidência atual publicada até o momento sugere que o estresse, definido como “resposta inespecífica do corpo frente a qualquer exigência”, está envolvido na patogênese da CIF.
Uma teoria quanto a esse efeito desenvolvida pela Universidade Estadual de Ohio postula que o estresse crônico em gatos leva a distúrbios no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, resultando em maior descarga do sistema nervoso simpático, o que, por sua vez, aumenta a estimulação sensorial e altera a permeabilidade da bexiga urinária em gatos (Figura 1).
Figura 1
Desenho esquemático da relação entre estresse, os eixos hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA), sistema nervoso simpático (SNS) e CIF.
Linha contínua significa estimulação e linha tracejada significa inibição. Adaptado de Westropp and Buffington, 20042.
De fato, em gatos com CIF quando comparados a gatos sadios pode-se observar:
- O nível do fator liberador de corticotrofi na (CRF) no líquido cefalorraquidiano era maio
- Em resposta à injeção de CRF, a concentração plasmática do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) era maior e do cortisol era menor
- As glândulas adrenais eram menores
- As concentrações de catecolaminas plasmáticas eram mais elevadas e a permeabilidade da bexiga urinária estava aumentada
Portanto, além de controlar a CIF por meio da nutrição com alimentos ricos em ácidos graxos ω-3, provenientes do óleo de peixe, que foi clinicamente comprovado para reduzir a recorrência de episódios de CIF, intervenções para reduzir o estresse e/ou a ansiedade em gatos parecem justificadas.
Foi demonstrado que o enriquecimento ambiental em gatos com CIF reduz significativamente os sinais da doença e ansiedade.
Foram relatados efeitos positivos de vários nutrientes sobre comportamentos relacionados à ansiedade e ao estresse em vários mamíferos (incluindo gatos), notavelmente do aminoácido essencial L-Triptofano e da proteína hidrolisada do leite (também conhecida como caseína hidrolisada ou alfa-casozepina).
L-Triptofano é o precursor para a síntese de serotonina. A serotonina não consegue atravessar a barreira hematoencefálica, assim, é importante o suprimento dietético adequado de L-Triptofano para a síntese de serotonina no cérebro.
Em geral, considera-se que a serotonina no sistema nervoso central tenha influência sobre o comportamento, a saciedade, a cognição e a capacidade de aprendizagem. Concentrações aumentadas de serotonina foram associadas com sensação de felicidade e diminuição da ansiedade em modelos com pessoas e animais.
Já a proteína hidrolisada do leite (no caso, caseína hidrolisada, que é formada pela hidrólise de tripsina) foi associada com alívio significativo do estresse em modelos de ansiedade em roedores e pessoas. O mecanismo exato desses efeitos ansiolíticos é desconhecido, mas pode ser mediado através do complexo receptor do ácido gama-aminobutírico (GABA)/ benzodiazepínico.
Efeito da ingestão dietética com suplementação de L-Triptofano em gatos de alojamento compartilhado que apresentam comportamentos relacionados ao estresse
Effect of dietary intake of L-Tryptophan supplementation on multi-housed cats presenting stress related behaviors
Delineamento do Estudo
Estudo randomizado, duplo-cego, controlado com placebo, de 25 gatos (idade média 8 anos; 10 machos e 15 fêmeas) alojados em casas com múltiplos gatos foi conduzido para avaliar o efeito da suplementação de L-Triptofano sobre os sinais comportamentais de transtornos relacionados à ansiedade e ao estresse.
Realizou-se exame físico nos gatos antes da inclusão e no final do estudo. Os animais foram observados por 10 minutos/dia (5 dias/semana) ao longo de 3,5 meses por um observador treinado.
As duas primeiras semanas de observação foram utilizadas para os gatos se familiarizarem com o observador. Os gatos não receberam suplementação nas 4 semanas seguintes para estabelecer um parâmetro basal. Com início na sétima semana, os animais foram designados aleatoriamente para receber L-Triptofano na dose de 12,5 mg/kg de peso corporal ou placebo com a sua refeição diária. As observações comportamentais prosseguiram pelas 8 semanas seguintes.
Resultados
Os gatos no grupo suplementado com L-Triptofano exibiram um número significativamente menor de comportamentos relacionados ao estresse (p. ex. comportamentos estereotípicos, agonistas e sustentados) quando comparado com o grupo placebo (p<0,05).
Conclusão e Importância Clínica
A suplementação com L-Triptofano em gatos domésticos que residem em casas com mais de um gato pode ser um adjuvante benéfico para diminuir os sinais de estresse e ansiedade e melhorar o bemestar do animal.
Efeito de alfa-casozepina (Zylkene) sobre a ansiedade em gatos
Effect of alpha-casozepine (Zylkene) on anxiety in cats
Delineamento do Estudo
Estudo multicêntrico, randomizado, duplocego controlado com placebo foi conduzido para avaliar a eficácia de α-casozepina oral como ansiolítico em gatos.
Avaliou-se a ansiedade nos gatos por uma escala emocional validada para a espécie. Os tutores avaliaram cinco comportamentos utilizando escala de 0 a 5 (0 indica comportamento representativo de alta ansiedade e 5 indica baixa ansiedade).
Os gatos eram incluídos no estudo se tivessem uma pontuação total <15 na avaliação ou pontuação de zero em qualquer comportamento isolado. Os tutores classificaram também subjetivamente a melhora ou não do animal.
Trinta e quatro gatos (21 fêmeas, 13 machos) foram incluídos no estudo e designados aleatoriamente para o grupo teste ou placebo. O grupo teste recebeu α-casozepina na dose de 15 mg/kg de peso corporal, via oral, uma vez ao dia. Cada gato foi avaliado 5 vezes.
As avaliações presenciais foram realizadas no início, na quarta e oitava semana no hospital. Acompanhamentos por telefone ocorreram na 2ª e na 6ª semana. Em cada avaliação firam acompanhadas três categorias individualmente: pontuação global, número de itens com pontuação igual a 0 e avaliação subjetiva da mudança pelo tutor.
Resultados positivos para as três categorias foram definidos, respectivamente, como pontuação global objetiva > 16, nenhum comportamento com pontuação de zero e pontuação subjetiva do dono > 6/10. Tratamento bem sucedido foi definido como ter atingido o critério para a pontuação global objetiva e a pontuação subjetiva na Semana 8.
Figura 2
Taxa de melhora para a pontuação total de comportamento global entre α-casozepina e placebo.
A taxa de pontuação global total foi significativamente melhor para o grupo tratamento (p=0,03).
Resultados
Não existia diferença signifi cativa entre os grupos no início do estudo. Na oitava semana, 10/17 gatos (59%) no grupo α-casozepina e 4/17 (23%) no grupo placebo haviam respondido positivamente, o qual foi constatado diferença significativa (p=0,02).
Além disso, a taxa de pontuação global total de melhora ao longo do tempo foi signifi cativamente maior no grupo α-casozepina do que no grupo placebo (Figura 2).
Conclusão e Importância Clínica
O estudo fornece evidência positiva Grau 1 para a eficácia de α-casozepina no controle de gatos que exibem comportamentos atribuíveis aos ambientes com estresse social.
Resumo dos Conhecimentos Científicos
Postula-se que o estresse desempenha uma função importante no desenvolvimento da CIF e recomenda-se reduzir o estresse como componente fundamental do controle multimodal para esses gatos. L-Triptofano e proteína hidrolisada do leite demonstraram diminuir a ansiedade e os sinais comportamentais relacionados ao estresse e, assim, podem ser úteis no tratamento.
Alimentos que contenham esses ingredientes para ajudar a controlar o estresse, como Prescription DietTM c/dTM Multicare Stress Feline, podem desempenhar papel importante no controle da CIF em gatos.
Referências
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