Staphylococcus Resistentes à Meticilina – Abordagem Prática do Guideline de 2017
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Introdução
O uso indiscriminado de antibióticos, tanto em medicina humana quanto em veterinária, tem feito uma pressão de seleção sobre bactérias resistentes. Em dermatologia, as bactérias do gênero Staphylococcus são as de maior importância.
Na medicina humana, o Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) foi identificado na década de 60. Já na medicina veterinária, a resistência à meticilina vem sendo muito discutida, e foi reconhecida como um problema global apenas na última década, quando se notou que sua prevalência nas populações de cães e gatos, particularmente do Staphylococcus pseudintermedius (MRSP), escalou rapidamente.
Alguns guidelines já foram publicados abordando o tratamento das piodermites superficiais, ou mais especificamente, da foliculite bacteriana superficial. A abordagem terapêutica nos casos em que se evidencia a presença de bactérias multirresistentes, no entanto, deve ser diferenciada.
Resumos dos principais pontos de consenso publicados no guideline de 2017:
- As espécies de Staphylococcus de maior importância na dermatologia veterinária são pseudintermedius, aureus e schleiferi. Isolados resistentes à meticilina ou resistentes a múltiplas drogas das três espécies já foram identificados em cães e gatos
- Os laboratórios de microbiologia devem ser capazes de identificar a espécie de Staphylococcus e informá-la no exame
- A terapia tópica, usando agentes antibacterianos eficazes contra Staphylococcus, é a modalidade de tratamento recomendada nos casos de piodermites superficiais resistentes, particularmente aquelas com lesões localizadas ou superficiais. A clorexina 3% é comprovadamente eficaz nos casos de piodermites resistentes à meticilina ou multirresistentes
- Terapia tópica deve sempre ser usada como monoterapia nos casos de piodermites de superfície ou superficiais
- Existem diferenças geográficas na disponibilidade e registro de drogas antimicrobianas para uso em animais. As decisões de uso judicioso precisam levar em conta as recomendações de prescrição regional em medicina veterinária e humana
- A escolha empírica de antibióticos sistêmicos sempre está contraindicada quando se suspeita de infecção estafilocócica resistente à meticilina com base no histórico, devido à alta prevalência de resistência a múltiplos fármacos dentro destas cepas
- O uso de antibióticos modernos, com indicação para o tratamento de infecções multirresistentes em humanos, deve ser restrito em medicina veterinária
- Há pouca diferença na resolução dos quadros entre infecções estafilocócicas resistentes e sensíveis à meticilina em animais, e o prognóstico das infecções resistentes é bom nos cães e gatos, a depender da causa de base e comorbidades
- A identificação molecular da cepa de MRSP tem mais valor científico do que aplicação clínica
- A higiene das mãos (lavar, secar e usar sanitizantes como álcool gel) é o pilar fundamental no controle da disseminação das infecções entre diferentes animais. O clínico deve observar, também, o uso de jalecos exclusivamente no ambiente de trabalho e luvas descartáveis
- Protocolos de limpeza e desinfecção ambiental são o alicerce do controle da infecção hospitalar. As espécies de Staphylococcus resistentes à meticilina (MRS) são suscetíveis aos desinfetantes mais comumente utilizados
- A transmissão de MRS dos animais para pessoas é possível e, por isso, é recomendável a restrição ao contato enquanto o tratamento não for iniciado ou até que se observe uma resposta ao tratamento. Medidas de higiene devem ser otimizadas nesses casos
Conclusão
Ao observar o caminho trilhado pela medicina humana, devemos repensar a forma como utilizamos antibióticos em medicina veterinária. É importante resistir ao uso excessivo ou inapropriado de antibióticos, lançando mão da terapia tópica quando possível, realizar cultura e antibiograma com mais frequência e educar os clientes quanto à importância de realizar o protocolo terapêutico corretamente.
Referência bibliográfica
MORRIS, D.O. et. al. Clinical Consensus Guidelines of the World Association for Veterinary Dermatology. Veterinary Dermatology. 28: 304–e69, 2017.