Ectoparasiticidas: tópicos ou orais?
Produtos Relacionados
Houve, nos últimos 25 anos, uma grande evolução em termos de soluções ectoparasiticidas para pequenos animais. Isto resultou no surgimento de muitos produtos no mercado, tanto de uso tópico quanto de uso oral.
Como consequência, existe hoje um debate acerca das vantagens e desvantagens do uso de ectoparasiticidas que se distribuem topicamente pela superfície cutânea, como o Fipronil, ou sistemicamente, via corrente sanguínea, a exemplo das isoxazolinas (PFISTER & ARMSTRONG, 2016).
Assim sendo, não é possível, baseado nas publicações atuais, afirmar que um tratamento será superior ao outro em todas as circunstâncias (PFISTER & ARMSTRONG, 2016).
Carrapatos
Os carrapatos são responsáveis pela transmissão de uma série de doenças infecciosas virais, bacterianas e parasitárias. Por meio da alimentação, esses parasitas podem transmitir os patógenos tanto aos humanos quanto aos animais, especialmente os cães.
Dentre as doenças potencialmente transmitidas pelos carrapatos, a erliquiose é uma das mais importantes no Brasil, por sua incidência. A Ehrlichia canis é um patógeno que habita o intestino dos vetores, mas pode ser encontrada também nas glândulas salivares dos carrapatos: isso influencia diretamente na velocidade de transmissão da doença aos cães parasitados.
Estudos mostram que a E. canis pode ser transmitida em um período de 3 a 6 horas durante a alimentação do carrapato.
As isoxazolinas têm se mostrado uma solução importante no controle das infestações por carrapatos. É necessário ressaltar, no entanto, que essas moléculas exigem que o carrapato se alimente para que exerçam sua ação, e os estudos com relação ao tempo de atividade dessas drogas (“speed of kill”), demonstram que elas podem levar até 12 horas para atingir 100% de eficácia no controle da infestação por carrapatos, conforme tabela 1 abaixo:
Tabela 1: eficácia (%) de ação contra carrapatos após administração oral de isoxazolina a cães
Fonte: WENGENMAYER et al., 2014
Em outras palavras, o risco de transmissão da E. canis não pode ser completamente descartado quando do uso das isoxazolinas (WENGENMAYER et al., 2014).
Pulgas
As pulgas também podem transmitir doenças aos cães, porém o maior problema associado à puliciose talvez seja a DAPE (dermatite alérgica à picada de ectoparasitas).
A saliva da pulga possui antígenos capazes de ativar uma resposta imunológica de hipersensibilidade no hospedeiro e, o que se sabe, é que uma vez que a sensibilização ocorreu, o retorno das lesões associadas à alergia pode ocorrer com a picada de apenas um pequeno número de pulgas (TAENZLER et. al., 2014).
Os comprimidos de isoxazolina começam a agir apenas 1 hora após sua administração (8% de eficácia), atingindo 88% de eficácia pós 4 horas e 99,4% após 8 horas. Mais importante do que isso, entretanto, é a observação que ao longo do tempo de 4, 8 e 12 semanas após a administração do comprimido, a eficácia do produto nunca foi de 100% nas primeiras 4 horas, conforme a tabela 2 abaixo, o que significa que um pequeno número de pulgas ainda foi capaz de se alimentar:
Tabela 2: eficácia (%) de ação contra pulgas após administração oral de isoxazolina a cães
Muito embora o trabalho conclua que, clinicamente, os animais não demonstraram sinais de DAPE ao longo do estudo, fica claro que essa possibilidade existe.
O Fipronil é uma molécula segura e que age rapidamente contra as pulgas, já que seu efeito knock-down ocorre dentro de cinco minutos (HALOS et al., 2016). Muito se discute hoje a respeito da possibilidade de as pulgas terem criado algum grau de resistência à molécula, já que ela vem sendo utilizada há muito tempo.
Nenhum trabalho que comprove essa afirmação, no entanto, foi publicado. Ao contrário, existem estudos que mostram que nenhum gene de resistência ao Fipronil foi encontrado em pulgas de cães e gatos (RUST, 2017), e que a impressão de que as pulgas estão mais resistentes ao produto se deve, de fato, a um uso incorreto do produto (subdosagem ou intervalo de uso incorreto) e também a um pobre entendimento de como funciona o ciclo biológico do parasita, ao não tratar todos os contactantes e o ambiente (SIAK & BURROWS, 2013).
Conclusão
Pelos dados até então relatados em literatura, não é possível fazer a afirmação de que exista apenas um método completamente seguro para eliminar a infestação por pulgas e carrapatos, e consequentemente prevenir as doenças infecciosas ou alérgicas causadas por esses parasitas. Uma estratégia plausível para aumentar a eficácia de proteção deveria ser o uso combinado dos dois tipos de estratégias: tópica e oral.
Referências bibliográficas
SIAK, M.; BURROWS, M. Flea Control in Cats: New concepts and the current armoury. Journal of Feline Medicine and Surgery. 15, 31–40. (2013).
RUST, M. K. The Biology and Ecology of Cat Fleas and Advancements in Their Pest Management: A Review. Insects. Dec; 8(4): 118. (2017). TAENZLER J. et al. Onset of activity of fluralaner (BRAVECTO™) against Ctenocephalides felis on dogs. Parasites & Vectors. 7:567. (2014).
PFISTER, K.; ARMSTRONG, R. Systemically and cutaneously distributed ectoparasiticides: a review of the efficacy against ticks and fleas on dogs. Parasites & Vectors. 9:436; (2016).
WENGENMAYER et al. The speed of kill of fluralaner (Bravecto™) against Ixodes ricinus ticks on dogs. Parasites & Vectors. 7:525; (2014).
HALOS L. et al. Knock-down and speed of kill of a combination of fipronil and permethrin for the prevention of Ctenocephalides felis flea infestation in dogs. Parasites & Vectors. 9:57; (2016).