Uso concomitante de dois shampoos terapêuticos em um cão com diagnóstico de Dermatite Atópica: relato de caso
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Introdução
A Dermatite Atópica é uma doença de base genética, com caráter crônico e altamente pruriginosa. Seu diagnóstico é complexo, à medida que é realizado pela exclusão de outras possíveis causas de prurido. As infecções secundárias são frequentes, uma vez que as alterações na composição dos lipídeos intercelulares que são características da enfermidade causam, dentre outras coisas, um desequilíbrio no intrincado microbioma cutâneo, facilitando o supercrescimento de micro-organismos patogênicos como o Staphylococcus pseudintermedius e a Malassezia pachydermatis.

Em geral, a pele dos cães acometidos pela Dermatite Atópica mostra-se ressecada (xerose), devido principalmente à perda transdérmica de água, dados os defeitos que esses animais apresentam na barreira cutânea. Contrariamente, nas áreas mais ventrais (cervical ventral, axilar, inguinal, coxins digitais), onde há excesso de umidade e oleosidade, pode ocorrer o crescimento da M. pachydermatis. Assim sendo, não é incomum observar em um animal atópico, o desenvolvimento de malasseziose secundária, com sinais de hiperpigmentação, lignificação e seborreia oleosa ventralmente, nessas áreas citadas, bem como infecções bacterianas secundárias (Hensel et. al., 2015).
Anamnese e Exame Físico
Foi atendido durante aula prática do curso de especialização em dermatologia veterinária da Dermatovet Cursos um cão, macho, da raça Shih Tzu, de 7 anos de idade. Os tutores referiam que o animal apresentava problemas de pele com prurido intenso desde os 2 anos de idade, incluindo piodermites recorrentes e otites. O prurido, à observação durante o atendimento, foi classificado como sendo nota 9/10 na escala VAS (Escala Analógica Visual).
Ao exame físico, o animal apresentava eritema intenso, alopecia e edema em membros pélvicos. A pele da região dorsal apresentava-se xerótica e com descamação e os pelos secos e quebradiços, enquanto que, nas áreas ventrais, incluindo os coxins digitais, observou-se untuosidade e hiperpigmentação.
Exames complementares
Foram realizados raspados profundo, que descartou a possibilidade de demodiciose, e superficial, onde se evidenciou a presença de cocos e estruturas leveduriformes. A citologia por fita da região interdigital também evidenciou a presença desses mesmos micro-organismos.
Diagnóstico
Os tutores referiam já terem feito o controle de ectoparasitas inúmeras vezes, com diversos produtos diferentes, pelos tempos indicados pelos fabricantes, sempre sem sucesso no controle do prurido. Já haviam também realizado uma dieta de exclusão e utilizavam uma dieta hipoalergênica comercial por mais de 2 anos.
Desta maneira, seguindo os critérios estabelecidos na literatura para diagnóstico de exclusão de doenças alérgicas, chegou-se ao diagnóstico de Dermatite Atópica com infecção bacteriana e malasseziose secundárias.
Tratamento
À constatação de que o animal possuía, em região dorsal, pelame ressecado e descamação, ao passo que na região ventral observava-se untuosidade, preconizou-se o tratamento tópico com dois shampoos, ao dividir o animal no plano horizontal:
- Banhos com Allermyl® Glyco em região dorsal, 2 vezes por semana
- Banhos com Sebolytic® em região ventral, 2 vezes por semana

A aplicação dos shampoos era simultânea. Os produtos eram deixados agindo por 10 minutos, enxaguados e o animal secado cuidadosamente.
Além da terapia tópica, foi preconizada também a terapia sistêmica com Rilexine® Palatável (Cefalexina) para controle da infecção bacteriana secundária (30 mg/kg a cada 12 horas por 30 dias). Para o controle sintomático do prurido, foi utilizado inicialmente corticoide e, a seguir, Oclacitinib. Associou-se também o Itraconazol para o controle da malasseziose e foi solicitado ao tutor que mantivesse o controle de ectoparasitas ad eternum.
Após 30 dias, a terapia sistêmica foi suspensa. Após 8 semanas, os banhos com Sebolytic® foram reduzidos para uma vez por semana, na fase de manutenção. O Allermyl® Glyco foi mantido duas vezes por semana, e foi introduzido o uso do Allerderm® spot on, com o intuito de melhorar a barreira cutânea e manter a hidratação.

Referências bibliográficas:
1. Hensel et al. BMC Veterinary Research (11:196), 2015.