Introdução

Cães atópicos apresentam alterações cutâneas marcantes, que podem levar a alterações do microbioma e infecções de pele recorrentes, muitas vezes com o uso indiscriminado de antibióticos, o que pode gerar resistência bacteriana.

Os peptídeos antimicrobianos (AMPs) são pequenas proteínas catiônicas, produzidos pelas células epiteliais e imunes de mamíferos, que exercem importante papel na defesa imunológica contra micro-organismos. Os AMPs se ligam à superfície das bactérias e rompem a membrana, formando poros. Esse mecanismo de ação, conforme já demonstrado, não leva à resistência de bactérias, fungos ou vírus.

Os AMPs mais estudados são as betadefensinas (BDs) e Catelicidinas (Cath), secretadas principalmente pelas células epiteliais, tanto da pele normal quanto na pele inflamada (animais atópicos). Nos atópicos, no entanto, existe uma alteração em sua produção, o que deve estar ligado ao fato de as infecções de pele serem recorrentes nesses pacientes.

Extratos Vegetais

Extratos vegetais são utilizados há muito tempo na medicina humana e veterinária, inclusive em cosméticos, para auxiliar a melhorar a condição da pele de pacientes atópicos. Recentemente, foram isoladas moléculas com potencial imunológico de plantas como o Boldo (Peumus boldus) e Ulmária (Spiraea ulmaria). O Boldo é originário do Chile e há muito tempo se conhecem suas propriedades medicinais, já a Ulmária é uma planta comum na Europa e contém altas concentrações de quercitina, um polifenol com propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes. Além disso, estudos vêm mostrando a capacidade desses extratos de estimular a secreção de peptídeos antimicrobianos (AMPs) via expressão de mRNA.

Dessa forma, este estudo possui dois objetivos principais:

• Testar se esses extratos vegetais são capazes de estimular a produção de AMPs em queratinócitos caninos
• Avaliar a resposta pró-inflamatória, via produção de citocinas

Materiais e Métodos

Este estudo foi realizado em duas fases:

• Fase 1 – definição da concentração ideal de cada extrato para estimular a produção de AMPs e avaliação de resposta pró-inflamatória
• Fase 2 – análise da ação cada extrato isoladamente e na combinação de ambos

Resultados e Discussão

Fase 1

Dentre todas as concentrações de extratos de Boldo (2%, 1,5%, 1%, 0,4% e 0,2%) e Ulmária (1%, 0,4% e 0,2%) testados, as menores concentrações de ambos os estratos (0,2%) foram as mais promissoras em termos de resultado, pois foram capazes de estimular a produção de AMPs em queratinócitos de cães atópicos. 

Além disso, não foram observados efeitos pró- -inflamatórios em qualquer concentração testada dos extratos vegetais:

Fase 2

Nesta fase, foi avaliada a resposta de produção de AMPs em queratinócitos de cães atópicos em 3 situações:

• Concentração de 0,2% do extrato de Ulmária
• Concentração de 0,2% do extrato de Boldo
• Combinação de 0,1% do estrato de Ulmária com 0,1% do extrato de Boldo

Os resultados mostraram que o extrato de Ulmária isoladamente foi capaz de aumentar a expressão do mRNA que codifica a produção de betadefensinas (BD), mas não para as catelicidinas (Cath). Já o extrato de boldo isolado aumentou a expressão do mRNA para BD e Cath, mas não significativamente.

No entanto, um resultado melhor foi obtido com a combinação de ambos os extratos na concentração de 0,1%, onde se observou aumento significativo de ambos os AMPs.

Conclusão

Em conclusão, este estudo mostrou que os extratos de Boldo e Ulmária não possuem efeitos pró-inflamatórios. Além disso, esses componentes possuem o potencial de estimular a produção de AMPs nos queratinócitos de cães atópicos. Os melhores resultados foram obtidos com a combinação de 0,1% de ambos os extratos, com o potencial de controlar o supercrescimento bacteriano em cães alérgicos.

Referência bibliográfica:

Santoro D; Ahrens K, Vesny R, Navarro C, Gatto H, Marsella R. Evaluation of the in vitro effect of Boldo and Meadowsweet plant extracts on the expression of antimicrobial peptides and inflammatory markers in canine keratinocytes. Research in Veterinary Science. v. 155 p. 255-262, 2017.