Piodermite felina: doença rara ou pouco diagnosticada?

Empresa

Virbac

Data de Publicação

16/02/2020

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Introdução 

A Dermatologia Veterinária vem evoluindo no sentido de evidenciar as importantes diferenças no diagnóstico e tratamento das doenças de pele entre cães e gatos. Muitas doenças consideradas raras na espécie felina podem, de fato, estar sendo subdiagnosticadas. 

Em um estudo retrospectivo sobre piodermite superficial felina, onde foram realizados levantamentos de mais de 200 casos de dermatologia em gatos, os autores trouxeram alguns pontos de discussão importantes, com o objetivo de melhor caracterizar essa doença na espécie felina. Abaixo, estão resumidos os principais achados deste trabalho. 

Piodermite Felina: dados de literatura 

  • As principais bactérias envolvidas são do gênero Staphylococcus spp., sendo o Staphylococcus pseudintermedius o principal agente 
  • A piodermite é caracterizada como rara nos gatos, e uma das explicações, seria a menor capacidade do Staphylococcus spp. de se aderir aos queratinócitos felinos 
  • A doença é normalmente secundária, sendo as principais causas de base: 

- Traumas 

- Imunossupressão induzida por drogas ou doenças 

- Alergias (DAPE, alergia alimentar ou síndrome atópica felina) 

- Doenças autoimunes da pele 

  • Sinais clínicos mais frequentes: 

- Pápulas crostosas ou com erosão – dermatite miliar (Fig. 1 e 2) 

- Eritema e ulcerações – Lesões do complexo granuloma eosinofílico (Fig. 3, 4 e 5) 

Resultados 

No período analisado, foram atendidos 266 gatos no Serviço de Dermatologia do Hospital Veterinário da Universidade de Sydney, Austrália. Desses, 52 animais foram diagnosticados com piodermite superficial. Isso corresponde a uma prevalência de quase 20%. Não houve predisposição de raça ou sexo. Com relação à idade, gatos mais jovens (menos de 3 anos) ou mais velhos (acima dos 9 anos) pareceram ser mais afetados. 

Sinais clínicos

Há uma variação muito grande dos locais onde as lesões podem aparecer com maior frequência e, na maioria dos casos, as lesões são disseminadas em mais de uma região. No diagrama abaixo (Fig. 6) podemos ver as áreas onde os sinais clínicos apareceram com maior frequência. Como podemos notar, nos gatos as lesões faciais são mais prevalentes. Dentre as lesões em face, as mais frequentemente observadas foram periauricular, periocular, perilabial, na ponte nasal, dorsal da cabeça e lateral da cabeça, respectivamente. 

Os principais tipos de lesões reportadas foram pápulas (referenciadas como dermatite miliar) em 29% e lesões do complexo granuloma eosinofílico em 10% dos gatos. Outros sinais mais frequentes foram alopecia (67%), eritema (46%), úlceras (27%) e erosões (27%). Crostas estavam presentes em 83% dos gatos avaliados, e o prurido era reportado pelos tutores em 92% dos animais. 

Diagnóstico das causas primárias 

Como já citado, a piodermite é normalmente secundária. Dos gatos deste levantamento, 73% tiveram a confirmação de uma causa de base. Dentre esses, os diagnósticos da causa primária mais frequentes foram: 

  • Síndrome atópica felina – 48%
  • Carcinoma de células escamosas in situ – 10%
  • DAPE – 8%
  • Alergia alimentar – 4% 
  • Doença autoimune – 3% 

Nos outros 27%, não houve a determinação da causa de base, embora houvesse a suspeita de doença alérgica na grande maioria destes. 

Tratamento 

No estudo em questão, 31% dos gatos receberam apenas o tratamento tópico, enquanto quase metade (48%) recebeu antibioticoterapia sistêmica. Houve ainda uma parcela de 21% dos animais que receberam ambos os tratamentos. 

Mesmo alguns gatos com piodermites primárias receberam antibioticoterapia sistêmica empírica, o que poderia ser considerado algo aceitável à época deste levantamento. Hoje, existe uma crescente preocupação com o uso indiscriminado de antibióticos sistêmicos, e os guidelines sugerem que a cultura e antibiograma seja realizada rotineiramente e que o tratamento sistêmico seja reservado para casos mais complicados de piodermites superficiais, piodermites profundas ou recorrentes, dando-se preferência ao tratamento tópico sempre que possível. 

A clorexidina é uma biguanida que apresenta ações antisséptica e desinfetante. Atua sob espécies bacterianas Gram-positivas ou negativas, incluindo Staphylococcus spp. Outra característica é o espectro de ação contra leveduras e fungos, incluindo Malassezia pachydermatis e as espécies de dermatófitos. 

São ativas as concentrações de 2 a 4%, já exercendo a partir de 2% ações antibacteriana e antifúngica. De forma geral, a concentração mais empregada é a de 3% e, nessa concentração, é possível a utilização em felinos. O potencial de irritação da clorexidina é considerado baixo. 

Fonte: Larsson & Lucas – Tratado de Medicina Veterinária Externa, 1a ed.; pag. 456. 

Conclusão 

A prevalência da piodermite superficial em felinos foi considerada alta nesse estudo (20%) se comparada a trabalhos previamente publicados, que reportavam a ocorrência desta doença como sendo entre 3,9% e 8,4% nos gatos. De qualquer maneira, não podemos dizer que a piodermite felina seja uma doença rara. É necessário utilizar-se da citologia e cultura e antibiograma para proceder com o diagnóstico correto e, assim, propor o tratamento mais adequado, sempre que houver suspeita. 

Referências bibliográficas: Yu, H. W. & Vogelnest, L. J. Feline superficial pyoderma: a retrospective study of 52 cases (2001–2011). Veterinary Dermatology. 2012.