Avaliação da eficácia da Azitromacina no tratamento de piodermites em cães

Empresa

Labyes

Data de Publicação

09/07/2020

AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA DA AZITROMICINA NO TRATAMENTO DE PIODERMITES EM CÃES

Regina Helena R. Ramadinha1 , Roberto Santos Teixeira2 , Sabrina Sylvain Ribeiro3 & Paulo Vargas Peixoto4 

INTRODUÇÃO

A piodermite bacteriana é a dermatopatia mais diagnosticada em cães1 , cujo principal agente etiológico é o Staphylococcus intermedius2 . Outros microorganismos como Staphylococcus spp., Pseudomonas sp., Acinetobacter sp. e enterobactérias como E. coli, Proteus sp. e Enterobacter sp., são raramente isolados de lesões dermatológicas de cães e gatos3 . Os piodermas normalmente são secundários a fatores predisponentes cutâneos ou sistêmicos cuja eliminação ou controle são essenciais à eficácia do tratamento3 . Na terapia de rotina dos piodermas caninos utilizam-se bases antibióticas como amoxiclina-clavulonada, clindamicina, eritromicina, lincomicina, cefalexina, cefadroxil, sulfa com trimetropim, enrofloxacina e orbifloxacina3,4,5,6. Estes medicamentos têm-se mostrado eficientes quando utilizados nas doses máximas e por tempo prolongado6 , o que eventualmente pode provocar efeitos indesejáveis. A azitromicina, um antibiótico macrolídeo de amplo espectro, é comprovadamente eficiente contra microorganismos gram-positivos, gramnegativos, anaeróbios, intracelulares e alguns protozoários7,8,9,10. Experimentos farmacológicos indicam que a dose terapêutica recomendada para cães e gatos é de 10 a 20 mg/kg, por via oral a cada 24 horas, ou 5-10 mg/kg, a cada 12 horas, com duração de 1 a 7 dias11,12. O objetivo deste trabalho foi avaliar a eficácia e os possíveis efeitos colaterais da azitromicina no tratamento de cães com piodermite. 

MATERIAL E MÉTODOS:

Foram utilizados 26 cães, 14 fêmeas e 12 machos, de diversas raças, provenientes do setor de Dermatologia do Hospital Veterinário da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. O peso dos animais variou de 4,5 a 60 kg e a idade entre seis meses e 14 anos. Estes animais foram divididos em três grupos em função do tipo de lesão (piodermites superficiais, piodermites profundas e otites recidivantes) e submetidos à avaliação clínica e dermatológica. O grupo I era composto por onze animais, o grupo II por treze e o grupo III por dois cães (Tab. 1). O diagnóstico foi feito através do exame citológico com material colhido das lesões por espátula ou swab pela técnica de esfregaço ou rolamento, corado pelo método panótico rápido (Instant Prov®) e examinado ao microscópio óptico. A azitromicina foi administrada na dose de 10 mg/kg, a cada 24 horas, por via oral, exceto em um animal, que pesava 60 kg, que recebeu a dose de 5 mg/kg a cada 12 horas. O tratamento variou de 5 a 10 dias de acordo com a profundidade da lesão. Todos os cães com piodermites secundárias a outras enfermidades receberam tratamentos específicos para estas. Após os períodos de medicação, os animais retornaram para nova avaliação clínica e dermatológica. 

RESULTADOS:

Dos 26 animais tratados com azitromicina, 23 (88,5%) se recuperaram no período de 5 a 10 dias. No grupo 1, 100% dos animais medicados apresentaram remissão total das lesões no período de 5 a 7 dias de tratamento. Já no grupo 2, dos 13 animais tratados, 10 obtiveram bons resultados, ocorrendo a cura das lesões entre 7 e 10 dias. No grupo 3 , dois animais foram tratados por sete dias e tiveram bons resultados (Tab. 2). Dos três animais que não obtiveram boa resposta, dois apresentaram cura clínica após dez dias de tratamento, mas novas lesões surgiram com o término do tratamento e o terceiro paciente não respondeu a terapia. Os efeitos colaterais da droga foram observados em seis (23,8%) animais: três apresentaram salivação intensa e inapetência no primeiro dia de tratamento, porém os sintomas foram transitórios. Outros três cães apresentaram vômitos. Em um animal, o episódio de vômitos foi único e ocorreu quatro horas após a administração da azitromicina. Um cão apresentou vômito após as alimentações no nono e décimo dias de tratamento. Já o terceiro, devido a diversos episódios de vômito nos três primeiros dias de tratamento, necessitou do uso concomitante de antiemético (metoclopramida).

DISCUSSÃO: 

Na medicina humana a azitromincina tem sido amplamente utilizada no tratamento de otites médias, infecções do trato respiratório, genital e da pele7,8,9. Baseado em pesquisas7 , onde se demonstra a eficiência da azitromicina contra Staphylococcus aureus e a ótima absorção que este antibiótico apresenta em todas as espécies animais, decidiu-se fazer este ensaio terapêutico para verificar a aplicabilidade da azitromicina na dermatologia veterinária. Da mesma forma que outros autores7,12, a azitromicina, no presente estudo, mostrou-se eficiente no tratamento do pioderma canino, visto que curou 88,5% dos casos de infecção bacteriana. Apesar da proporção considerável de pacientes que apresentaram efeitos colaterais (23,8%). Deve-se ressaltar que apenas o animal que apresentou diversos episódios de vômito, e necessitou de antiemético para continuar o tratamento, não apresentou remissão das lesões. Assim, é adequado sugerir a possibilidade da droga não ter sido absorvida em sub-dosagem. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 

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